Músicas Clássicas

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"As Pessoas devem servir. A vida é uma missão, não uma carreira." Stephen R. Covey

30 de março de 2012

O REGENTE E OS FALSOS GESTOS

Peço licença para comentar aqui uma experiência que tive a menos de um mês e que me motivou a escrever este texto. Fui ao ensaio da Orquestra Sinfônica de Heliópolis (do Instituto Bacarelli) e recebi uma aula de regência gratuita. O Sr. Roberto Tibiriçá assistia ao ensaio ao lado do regente daquele dia e não se continha, dando "pitadas" na interpretação da orquestra. Enquanto o ensaio acontecia, ele reparava em toda a orquestra, em todos os naipes. E gritava incomodado. No segundo tempo do ensaio, ele ssumiu a orquestra. Foi um choque! Palavras dele: "Brahms"! E a orquestra em silêncio se preparou. O maestro Tibiriçá dispensou a partitura que lhe foi oferecida assim como a batuta, e com tudo na cabeça , extraiu um som da orquestra só com gestos qe mudaram todo o seu colorido e sua interpretação. Ouso dizer que até a afinação melhorou! Depois disso falou: "Carlos Gomes"! e foi outra aula sem partitura de "O Guarani". Citei este exemplo porque a todo instante ele foi discreto mais seguro, e isso mudou o som de todos os naipes.
A importância de um regente está em conduzir a orquestra de maneira segura. Passando essa segurança aos músicos. Desta forma ele mantem a orquestra nas mãos e consegue dar sua interpretação à música. Tenho visto ao longo dos anos uma enormidade de maestros exibicionistas. Gestos bruscos, jogadas de cabelo, e espera de aplauso ao final. Será que a orquestra precisa mesmo de tudo isto para soar bem? Os músicos precisam sim de incentivo a todo momento, pois ao contrário, a música perde o "brilho", a vitalidade. O maestro à frente, mantendo a atenção dos músicos nele, relembrando a todo instante como deve ser a interpretação de cada frase músical, de cada trecho, idicando a entrada de cada instrumentista e o momento certo de silenciar é essencial para uma boa apresentação. Mas não devemos colocá-lo à frente dos músicos em importância. Pois, cabe a eles a parte mais dificil: tocar! os apalausos ao final são primeiramente para eles, que se dedicam oito, dez horas por dia em busca da perfeição. Ao maestro cabe o reconhecimento de ensaios bem feitos, que permitiram que a orquestra chegasse aquele nível. Cabem também aplausos, por ter conduzido a orquestra de maneira segura. Mas não cabe a ele o papel principal.
Quero destacar aqui que o maestro é sim importante, pois sem ele, seria dificil cento e cinquenta músicos tocarem no mesmo andamento, interpretarem de maneira uniforme, lembrarem onde são suas entradas (em música erudita pode-se chegar a centenas de compassos de pausa). Por isso, centralizar a atenção em um é de extrema necessidade. Mas não é preciso exibicionismo, que enganam aos leigos e arrancam rissos dos músicos. Estes tem suas opiniões sobre os maestros. Eles tem suas preferências e gostam daquele que consegue expressar com firmeza o que quer tirar do músico seu máximo no que se refere à dinâmica, expressão. Mas tem conhecimento suficiente para tocar à sua maneira. Se o maestro parar, a orquestra pode continuar sozinha. Embora insegura.
A regência orquestral é uma arte para o grande público, de dificil compreensão e cativante porque o maestro é o líder. É quase um mito. É um mito! E as salas de concerto  ficam cheias porque mitos atraem o interesse das pessoas. Quanto mais gestos incompreensiveis; quanto mais sacudir os braços; quanto mais "cara de artista"o regente fizer, mais emotiva fica a platéia, que ao final, se rende e o apalude fervorosamente. Os músicos de orquestra sabem disso e são obrigados a escalar maestros para suas temporadas que chamam público e imprensa, pois, do contrario, os teatros ficariam vazios. Creio que são poucos os que sairiam de casa para ouvir uma orquestra. A maioria vai para ver o maestro.
É claro que falo aqui sobre maestros interpretes. Quando se trata de compositores a coisa muda de figura. Neste caso, a estrela maior é realmente o maestro, pois é dele a obra interpretada. É por causa de sua música, seu estudo profundo e exaustio para construir algo interessante que todos estão ali. John Williams, Ennio Morricone, Nicola Piovani, Alan Silvestri, Howard Shore, Stefano Mainette e tantos outros compositores regente, sobem ao palco na condição de mestres. E dão interpretação exata para suas obras. Sem interferêncas de terceiros. Então, os aplausos são sim para eles. E é interessante reparar e comparar como eles são discretos em relação aos renomados maestros que temos por aí. Com exceção de alguns como John Neschiling, Roberto Minczuk, Julio Medaglia e outros poucos, que colocam a música em primeiro lugar, a maioria se utiliza da música para a satisfação do seu ego. Eles querem ser campeões! Deveriam estar nas olimpíadas e não em uma sala de concerto à frente de uma orquestra sinfônica. Afinal,  palco não é lugar de competição, mas de união. Todos tem que torcer por todos.
É verdade que alguns compositores não tem a mesma técnica apurada em regência como os grandes maestros que dedicam exclusivamente a isto. Porém, conseguem passar suas idéias aos músicos nos ensaios e dão a sua interpretação à obra de sua autoria. Ganham o respeito da orquestra pelo conhecimento músical que têm e a conduzem de maneira seria e discreta. Sem precisar de falsos gestos.

Autor: Tarso Ramos (Pianista)